Há meses vinha ensaiando uma mudança no visual: pintar os cabelos de vermelho.
É impressionante como para nós mulheres, que crescemos com a autoestima e identidade fortemente estruturadas no julgamento estético que fazemos de nós mesmas, uma decisão dessas é extremamente radical.
Eu, que me considero uma pessoa até relativamente desapegada, acabei não fugindo à regra.
Por vezes passei em frente às caixinhas de coloração, olhando tons e cultivando a vontade do novo, mas acabava desistindo.
Ficava dividida num dilema entre resolver inseguranças antigas (que começavam a ressurgir com os fios brancos e o rosto cansado) e atender a julgamentos novos e impiedosos (não seja consumista ou vaidosa, pra quê essa vontade boba?).
Passou-se o tempo e eu deixei a vontade de lado até que, num dia sem razão aparente, estava tão ANIMADA (!!!) com a vida que precisava refletir isso em algo vibrante.
Poderia ter feito uma arte, ido a uma festa, mas o que logo me ocorreu foram os cabelos.
E assim foi que me destaquei para o supermercado, escolhi uma caixinha e resolvi a situação de forma simples e imediata: em casa, no mesmo dia, sem muita noção de como fazer, mas com a certeza de que minha alegria queria inundar até a ponta dos fios.
É incrível como uma experiência tão simples pode ser tão libertadora! Aqui estou eu, livre de arrependimentos, livre de julgamentos, livre de medos, livre de complexos.
Eu, achando graça dos novos cabelos ruivos mal pintados, mas feliz por estarem feitos, lembrei-me mais uma vez de como é bom viver no sentir, no momento, na presença, na conexão comigo, na audácia de fazer escolhas que não precisam ser autorizadas, indicadas, racionais, justificáveis, úteis ou bem resolvidas, só precisam ser agradáveis. E minhas. E escolhidas. E ponto.
Mas tudo isso a partir de cabelos? É, minha cara, talvez porque a vida faz sentido assim mesmo, nas pequenas rebeldias da simplicidade, quando nos permitimos ser tocadas por elas.