Começa mais um dia. Os focos de fogo surgem a todo instante, e como bombeiros apagando os incêndios de nossas vidas com a escassa água da produtividade, vamos seguindo para frente, raramente olhando para trás.
Torcendo para concluirmos mais um dia, mais uma semana, mais uma tarefa, um pouco mais…mais? Essa é a solução? Este é o único jeito de viver? Não somos mais do que fazemos?
Porém, como enredo de novela, eis que o inimaginável acontece. De repente, como um oásis em meio a um deserto estéril, temos tempo para tudo. Aquela matéria prima perecível, irrecuperável e fugaz, em um momento, torna-se abundante. O tempo.
Comércios fechados, transporte público reduzido ou interrompido, ruas vazias, pessoas apreensivas. Outras perseguindo teorias da conspiração e sentindo-se impotentes.
Rios mais limpos, ar menos poluído, natureza respondendo positivamente diante da ausência da presença humana. E nós temos tempo.
Henry David Thoreau em seu livro Walden ou a vida nos bosques, relata o período em que viveu em meio a natureza sem absolutamente nada desnecessário ou supérfluo. Apenas o essencial. Ele afirma sabiamente em seu livro que “quem mata o tempo, injuria a eternidade”.
Nunca tivemos tantas opções, porém, nunca fomos tão infelizes. Tal qual um cinéfilo corre os olhos pelo catálogo dos serviços de streaming a procura de um filme por horas à fio, insatisfeito por não “encontrar nada” em meio a centenas de opções satisfatórias, assim somos nós pela vida afora. Saturados de tudo: informação, conhecimento, opções…E assim seguimos, matando tempo.
É de tempo que a vida é feita. Ele passará independente de como o usemos. Vivamos pois, para usá-lo da melhor forma possível.
Aproveitemos este revés temporário para rever nossas prioridades. Para valorizarmos aquilo que tem real valor. Que possamos usá-lo com sabedoria. Que possamos usar a sua faceta criadora ao invés da destruidora.
Nossa vida é a soma de cada minuto, cada ação, cada pensamento, cada sentimento. Degustar essas sensações a cada minuto, estando 100% no momento presente é uma dádiva. O ontem passou, o amanhã não chegou. Desfrutemos o hoje. Façamos hoje. Amemos hoje.